De volta ao ar em “Sonho Meu”, Jussara Calmon fala sobre participação em filme sobre a Rocinha, a maior favela do Rio de Janeiro

Recém chegada da Noruega, onde mora com o marido norueguês, Gudmunf Fjörtoft, a atriz Jussara Calmon está se preparando mental e espiritualmente para viver Cláudia, sua personagem no longa ‘Rocinha – Toda História Tem Dois Lados’, da diretora Rayssa de Castro.

Jussara que, desde os anos 80, não atuava em uma produção para o cinema, veículo que a lançou em 1981 para o estrelato, retorna agora às telonas em um personagem que tem tudo a ver com sua vida pessoal. Ultimamente a atriz pode ser vista na Netflix, em Chiquititas, no papel de uma severa diretora.

“Quando eu recebi a proposta para atuar em ‘Rocinha – Toda História Tem Dois Lados’, basicamente havia acabado de viver uma professora em Chiquititas, então, precisava me aprofundar, conhecer todos os lados de uma comunidade, pois quem vivencia essa realidade não vivencia só uma parte, vivencia um todo! E, para que eu tivesse propriedade ao interpretar meu papel, como atriz, arrisquei em um laboratório diferente, conhecer de fato a comunidade, de interagir com as pessoas, de ouvir as suas histórias, principalmente no caso das mulheres, porque hoje, “numa era onde tudo pode, nada convém”, se vive numa linha tênue, pisando em ovos, mesmo em pleno século XXI. Eu tinha que sentir na pele o que era a verdade de tudo isso”, conta a atriz e complementa “Não quero dar spoiler, porém, Claudia é basicamente minha história. Nasci sem recurso algum, dormi na rua, passei dias sem comer, minha vida deu uma reviravolta, após ter deixado o Espirito Santo e ido para o Rio de Janeiro, onde segui meu sonho. Claudia também. Claudia foi morar fora e eu também. Não teve como não me me apaixonar pelo perfil da personagem quando Rayssa (a diretora e roteirista) me mandou pelo WhatsApp”.

Jussara também lembra que a força motriz da sua personagem Claudia no Filme é, de longe, o principal aspecto que mais a motivou a aceitar a personagem e que está mais atual que nunca.

“O perfil de Claudia se resume a um personagem que gosta de ajudar e é o que eu gosto na vida real. Ela vem de uma história de superação e ajuda as crianças da comunidade a superarem. A similaridade que eu traço com este assunto motivador a gente está vendo aí, justamente agora nas Olímpiadas, veja quantas meninas de comunidade estão vencendo em suas modalidades. A menina do skate, lá do interior de Pernambuco. A menina do nado, outro exemplo, praticava numa lagoa em sua comunidade. E, quando o filme fala em dois lados da Rocinha, o predominante é este: o de superação, vitória, este é o lado bom”.

O filme, que traz um grande elenco, tem previsão de estreia ainda no final deste ano e Jussara não esconde sua ansiedade.

A última vez que Jussara pousou em solo brasileiro foi bem antes da Pandemia, em 2019, quando veio para gravar o vídeo do seu primeiro funk. Jussara tinha acabado de aceitar o papel de Claudia para o filme e, numa de suas visitas a Rocinha para entrar no enredo do filme, se apaixonou e parte do clipe do single ‘Novinha Recalcada’ foi gravada lá e parte em Copacabana. A música é um feat. de Jussara com o cantor Will’Zy.

A Música

Esta não é a primeira vez de Jussara no mundo da música. A Capixaba, nascida em Vitória, no Espírito Santo, também já fez parte do Trio musical “Pura Malícia”, que chegou a gravar um CD reunindo sucessos numa espécie de Merengue Forroseado.

Jussara também passou pelo teatro, cinema, circo e televisão, atuando em novelas como “Meu Bem Meu Mal”, “Tieta”, “Despedida de Solteiro”, “Sonho Meu” e “Chiquititas”. Além de fazer muito sucesso como musa das pornochanchadas, nos anos 80. No auge da sua carreira, a atriz virou notícia internacional ao viver um affair com o astro hollywoodiano Robert De Niro, em uma passagem dele pelo país.

O talento de Jussara também passou pelo mundo literário, onde lançou os livros “Jussara Calmon, muito prazer”, biografia da vida da atriz escrita por Fábio Fabrício Fabretti e Sônia Barbosa, e “Segredos Revelados”, reunindo relatos dos fãs e admiradores destinados à ela. Além do título infantil “A Princesa e o Pequeno Pescador”, sua primeira autoria em conjunto com o Caye Millfont.

O Teatro:

“Comecei cedo no espetáculo ‘Abracadabra’ e, posteriormente, expandi meus limites artísticos como bailarina, modelo fotográfico e atriz. Em realidade, quem me conhece sabe que eu já cantei antes, eu participei de um grupo, o “Pura Malícia”, porém, fiquei fora dos palcos como cantora por muito tempo! São anos de dedicação total à minha carreira como atriz tanto quanto à minha vida pessoal, então devemos saber bem conciliar tudo isto. Tudo parece fácil para quem assiste, mas sou uma mulher como todas as outras, que vivem conciliando tudo ao mesmo tempo família, profissão, casa, contas e tudo mais que todo trabalhador(a) enfrenta no seu dia a dia”.

Música “Novinha Recalcada”

“Entrei em contato com a minha equipe/amigos e informei essa minha necessidade (gravar um hit) a eles, compositores, arranjadores, e produtores musicais, juntamente comigo, trabalhando em prol desse objetivo, porém ainda assim era uma canção, eu precisava de um laboratório, eu precisava conhecer, de fato, o meu personagem e senti que não era dentro de um estúdio que conseguiria essa verdade!”.

Videoclipe “Novinha Recalcada”

“Então, para ter esta veracidade do tema, tive que conhecer realmente a vida na comunidade, foi aonde eu pensei depois: videoclipe! Conhecer a realidade da comunidade, os moradores, foi um grande laboratório. Vivenciar tudo. Enfim, conheci pessoas maravilhosas, pude ver e contar com a hospitalidade de tantas pessoas, que nos receberam em suas casas, nos contaram sobre suas vidas, suas lutas, suas conquistas sempre fortes, mas sem perder o sorriso no rosto, o brilho no olhar. O que me deixou loucamente entusiasmada, de fato, foi o lado bom da Rocinha, que são os moradores que, independente do ritmo, jamais deixam a peteca cair”.

Jussara Calmon

Jussara Calmon é sujeito e predicado da sua própria história. A arte sempre esteve nela, como se sangue fosse. Nos palcos da vida, brilhou. Passou pelo teatro, cinema, circo, televisão. O talento sempre se superando, assim como a sua vida difícil quando criança. A frase, “O insucesso é apenas uma oportunidade para recomeçar de novo com mais inteligência”, de Henry Ford, fundador da Ford Motor Company, se encaixa bem na vida de Jussara Calmon, esta mulher guerreira que foi à luta tantas vezes foram necessárias.

Jussara é uma artista completa, que canta, dança, interpreta, conta histórias, escreve livros. Passeia pelas artes como quem caminha no parque. Em plena ditadura militar, Jussara surgiu no cinema nacional e enfrentou esse período sombrio sem se afastar de seus sonhos.

Millôr Fernandes disse: “Jussara é a prova de que o artista brasileiro nasce com beleza e ascende com dificuldade, mas chega lá!”. É assim mesmo que é Jussara Calmon, muito prazer!

O seu livro infantil bilíngue, “A princesa e o pequeno pescador”, em parceria com o músico e escritor Cayê Milfont, pela Giostri Editora, e ilustrações de Azuma, foi lançado em 2013. Aconteceu em um momento bacana na vida de Jussara Calmon, que voltava as telas de TV interpretando uma severa diretora de colégio juvenil, na novela “Chiquititas”, do SBT. Por conta das gravações da novela, na época, Jussara ficava entre Brasil e Noruega.

Novela infantil nunca tinha sido novidade na carreira de Jussara Calmon. Ela, antes, havia interpretado uma carismática personagem que cuidava de um orfanato na novela “Sonho Meu”, na Rede Globo, em 1993.

Ao chegar em terras cariocas, nos anos 1980, Jussara, linda, morena, corpo escultural, ganhou as capas de “O Pasquim” e as telas do cinema. Trabalhou com diretores como Raphaelo Rossi, David Neves, Neville de Almeida, Afrânio Vital, Milton Alencar Jr. e Francisco Cavalcanti.

Por suas andanças pelo mundo, integrou grupos de shows, como “Brasil canta e dança”, produzido por Haroldo Costa, e se destacou como uma das principais vedetes, ao lado de Colé Sant’Anna, Grande Othelo, Ankito, Nik Nicola e Henriqueta Brieba.

Nos anos 90, Jussara Calmon integrou um grupo só de mulheres que cantava forró, o Pura Malícia. Foi nomeada a Rainha das Atrizes e ocupou o cargo de vice-presidente do Retiro dos Artistas. Incursionou em programas humorísticos e novelas da TV Globo, como Vale tudo, A Gata Comeu, Mandalla, Tieta, Despedida de solteiro e, o especial, A Maldita. Marcou presença no humorístico “Trapalhões”.

E sua vida amorosa envolveu histórias inéditas e intensas, como a com o ator Robert de Niro. Esse envolvimento estampou as principais manchetes de jornais e revistas. As lembranças do Brasil e o amor pelas origens nunca afastaram Jussara Calmon de seu país. Ela sempre está por aqui. O carnaval é uma grande paixão. “Romance Urbano”, de Pedro Rovai, “Longa Noite de Prazer”, de Âfranio Vital, “Rio Babilônia”, de Neville de Almeida, entre outros, foram alguns dos filmes do circuito carioca que Jussara participou. Jussara também fez parte da história da ‘Boca do Lixo’, em São Paulo, onde participou de mais de 20 filmes.

Jussara Calmon, Muito Prazer! – O Livro biográfico de 2012

A biografia, escrita por Fábio Fabrício Fabretti, com colaboração de Sonia Barbosa, conta a sua história. De família circense, Jussara teve uma infância pobre, passou fome, fugiu de casa ainda da adolescência, no Espírito Santo, e foi parar no Rio de Janeiro para se encontrar no teatro. Essa história, que dá um filme, vai virar filme nas telas de cinema. O roteiro está em estudo, assim como os patrocinadores. Enredo, porém, não vai faltar.

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